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sexta-feira, 21 de março de 2014

A adolescência e seus conflitos

A adolescência e seus conflitos

Andréia Schmidt

Uma das dificuldades mais comuns entre os adolescentes é conseguir entender as mudanças que acontecem nessa fase da vida. É muito comum que essa dificuldade acabe por se refletir em suas emoções. A cena é conhecida: um mau humor, vindo não se sabe de onde, uma irritação em relação a tudo o que os outros fazem ou dizem, principalmente quando esses outros são os pais ou irmãos, a sensação de que ninguém é capaz de entender seus sentimentos ou pensamentos. Quem, em algum momento da sua adolescência, não se sentiu assim?

Outro dia, uma garota de mais ou menos 16 anos falava, em um programa de TV, de fatos muito comuns nessa fase da vida. Contava sobre as brigas com sua mãe, que começavam por causa de implicâncias bobas, mas que a deixavam com a sensação de que sua mãe era incapaz de compreendê-la; falava da escola e de uma porção de pressões a que ela cedia, mesmo sabendo que eram todas um pouco sem sentido: vestir tal roupa, usar esse tipo de cabelo, falar sobre determinados assuntos, tudo para ser “aceita” pelos amigos. Finalmente, ela falava sobre sua angústia em relação ao futuro, sobre sua incerteza a respeito de quais sonhos conseguiria realizar e sobre o medo de não conseguir tudo aquilo que desejava.

Essa espécie de “depoimento” dado pela garota reflete o momento de vida pelo qual ela está passando, mas também fala de um sentimento comum a muitas pessoas de sua idade. Isso não significa que, quando ficam adultas, as pessoas tornam-se capazes de resolver todas as suas angústias e sua vida se enche de certezas. O que acontece é que a adolescência é uma fase em que se operam mudanças muito grandes e mudanças com as quais nem sempre nos acostumamos rapidamente.

Quando somos crianças, de modo geral, as coisas parecem se resolver por si mesmas: as regras são ditadas pelos adultos à nossa volta, o futuro é uma palavra que designa algo muito distante e nossas preocupações mais imediatas são os estudos, as brincadeiras com os amigos e outras atividades que povoam nosso dia a dia. A adolescência marca um período em que o futuro parece ter chegado. Mudam os interesses, mudam as exigências, mudam as relações. Os pais não sabem bem como tratar seus filhos: ora eles são crianças demais; ora são grandes demais. Diante disso, nada mais natural do que a sensação de incompreensão vivida pelo adolescente. De fato, os pais não estão completamente preparados para compreender a velocidade das mudanças que acontecem na vida de seu filho. Eles também têm que aprender uma nova forma de lidar com esse filho que cresceu e não é mais criança.

Como se não bastasse tudo isso, outras exigências se impõem. Ter que escolher uma profissão é uma delas, e muitos conflitos surgem por causa dessa necessidade. Além disso, surgem as primeiras paixões, as primeiras desilusões, a incerteza de ser amado ou de ser atraente o bastante para a pessoa de quem se gosta. Diante de tudo isso, como não se sentir meio perdido? A grande dúvida de muitos adolescentes é se esses sentimentos são normais ou se são o indício de um desajuste.
Infelizmente, todos esses conflitos não se resolvem facilmente. A insatisfação com vários aspectos da própria vida, as incertezas sobre o amor e as angústias em torno da profissão acompanham as pessoas pela vida afora. Em alguns momentos, com mais força; em outros, de forma mais branda. Isso não é ruim. Afinal, são essas angústias que fazem com que nos movimentemos procurando mudanças que melhorem nossas vidas. O que há de especial em todos esses conflitos durante a adolescência é que eles nos mostram que estamos crescendo, amadurecendo. Administrar esses conflitos é uma outra aprendizagem importante dessa época da vida. À medida que nos compreendemos melhor e percebemos com mais clareza nossas dificuldades, nossas relações com as outras pessoas se tornam mais fáceis, e a sensação de incompreensão diminui. Quando aprendemos a lidar com as incertezas, ficamos mais fortes para fazer as mudanças necessárias. É esse o sentido de todas as dúvidas que povoam a adolescência.
Os conflitos não desaparecem com o fim da adolescência e a entrada no chamado mundo adulto. Eles são uma oportunidade para aprendermos a identificar nossas dificuldades e a lidar com elas. É por isso que, apesar de incômodos, os conflitos são importantes. Passar por eles certamente não é uma tarefa fácil, mas pode ser uma grande experiência para toda a vida.

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