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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


Priscila Forone/Gazeta do Povo


A internet faz parte da vida dos colegas Adam Freitas e Meisy Gomes Okino, ambos de 14 anos
Comportamento
A nova babá eletrônica
Pesquisa aponta a superconectividade dos adolescentes e os perigos a que ficam expostos na internet. Quase sempre sem a tutela necessária dos pais

Publicado em 21/11/2010 Adriana Czelusniak - adrianacz@gazetadopovo.com.br
Fale conoscoRSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letraViolência e nudez são considerados temas fortes e impróprios para os mais jovens, mas já passaram pelos olhos do estudante Adam Freitas, 14 anos, nos seus acessos à internet. Ele lembra que há pouco tempo recebeu por e-mail a foto ousada de uma menina que conhecia. “Ela tinha 13 anos na época, estava de rolo com um amigo nosso e mandou a ele uma foto em que aparecia sem usar nada na parte de cima. Ele mostrou para uma galera”, conta.

Segundo uma pesquisa – realizada pelo Portal Educacional e coordenada pelo psiquiatra Jairo Bouer – 71% dos adolescentes costumam postar fotos e vídeos pessoais na internet. Ao menos 7% admitiram que as imagens eram ousadas. Os questionários foram aplicados via on-line para 10,5 mil estudantes entre 13 e 17 anos.

Divulgação



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Jairo Bouer
Entrevista
Jairo Bouer, psiquiatra e coordenador da pesquisa “Este jovem brasileiro”

O que mais o preocupa no resultado da pesquisa?

Essa modalidade de comportamento de usar internet para se relacionar é mais comum entre os jovens do que a gente podia imaginar. E isso sem que eles tenham noção dos riscos que estão correndo mostrando suas informações, dividindo suas coisas e se relacionando com estranhos.

O que pode ser feito a partir desta pesquisa?

Temos de discutir o uso e os riscos que eles correm. Nem pais nem professores têm noção desses riscos. A internet é muito mutante, a cada momento você tem uma série de novos programas, redes sociais e fatos novos.

Como os pais podem ajudar?

Os pais não têm noção do que está se passando. Como às duas horas da manhã o pai vai saber o que se passa no quarto? Uma grande característica da web é essa história de ter dificuldade de mapear. Mas a internet chegou para ficar. É importante e fundamental que ela seja usada com todo o seu potencial. É difícil o pai controlar e não adianta proibir o uso em casa. Então, ele tem de ajudar o jovem a criar filtros, a estruturar de forma conjunta a relação do jovem com a internet. A princípio limitando o uso, assim como deve ser feito em outras histórias de comportamento com abuso e exagero. É importante que o pai tente limitar essa dependência e que tenha a possibilidade de discutir com o jovem a forma como ele usa a web. Pois os pais não vão conseguir controlar o tempo inteiro. Da mesma forma que o adolescente é quem vai decidir se vai tomar um porre ou não, ou se vai usar camisinha. É ele que decide como usa a internet.

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Confira alguns dados levantados pelo questionário respondido pelos 10,5 mil alunos de 13 a 17 anos que participaram do projeto “Este jovem brasileiro”:

- 21% consideram que o uso da internet está acima do nor­­mal ou se consideram dependentes da web

- 44% admitem a possibilidade de marcar encontros reais e 9% já fizeram sexo virtual

- 29% já fizeram algum comentário ofensivo com pessoas na web

- 50% dos que têm computador em casa, mantêm o equipamento dentro do próprio quarto
A pesquisa, que faz parte da sexta edição do projeto “Este jovem brasileiro”, mostrou também que 69% dos jovens creem que o anonimato da internet estimula as pessoas a ofenderem umas às outras, sendo que 31% confirmaram já ter sido vítimas de alguma forma de violência. Adam conta que já presenciou esse tipo de situação algumas vezes, e que, em pelo menos duas delas, já foi ameaçado. “Uma vez postei no Orkut um link de um vídeo que tinha uns caras do Exército dançando Lady Gaga. Logo em seguida, um amigo meu que estava no Exército começou a me ameaçar, dizendo que ia me processar e um monte de coisas. Outra vez, o namorado de uma amiga me adicionou no MSN e disse que tinha uns amigos barra-pesada que iam me pegar por eu estar dando em cima da namorada dele. Felizmente consegui desfazer o malentendido”, lembra.

Segundo a psicanalista Shirley Rialto Sesarino, professora de Psi­­cologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, os jovens passam muito tempo vulneráveis na internet por descuido dos pais. “Muitos pais estão deixando os filhos para a ‘mídia’ cuidar. Estão muito ocupados em ‘ganhar’ dinheiro para dar ‘tudo’ aos filhos e acabam por não dar um pouco de ‘presença’ e atenção. E aí não estranham que seu filho mude de tela em tela – tevê, videogame, computador – nas horas vagas dentro de casa”, afirma.

Essa distância entre pais e filhos estaria facilitando o abuso da internet por parte dos jovens, de acordo com Jairo Bouer, assim como facilita outros tipos de abuso. “Fazemos um cruzamento considerando o perfil do jovem em relação a alguns fatores que são de risco para diversos tipos de comportamento e as respostas em cada módulo da pesquisa. Assim, a gente acaba sabendo como é a relação familiar do adolescente e o rendimento na escola etc. Aqueles que têm relação difícil em casa, que consomem álcool e drogas com mais frequência são aqueles que têm mais chance de ter um excesso de uso da internet e de se expor mais”, diz.

Excesso

A mãe da estudante e modelo Meisy Gomes Okino, 14 anos, controla com rédea curta o tempo de acesso da filha na internet. Par­­ticipante de redes sociais como Twitter, Orkut, Facebook e usuária da internet para pesquisas, a adolescente conta que precisa da “supervisão” materna para não passar tempo demais conectada. “Falo com meus amigos pela internet o tempo todo. É só eu chegar da escola para ir para o computador. Aí minha mãe começa: ‘Filha, tá na hora de estudar, de tomar banho, de dormir...’” Mas ela diz que, assim como 23% dos adolescentes ouvidos na pesquisa, já passou a noite em claro para ficar navegando. Ou pelo menos tentou. “Nas férias, uma amiga foi dormir na minha casa e tivemos a ideia de virar a noite na internet. Nós mexemos em fotos, conversamos no bate-papo, participamos das redes sociais. Mas, quando eu percebi, já estava amanhecendo e nós tínhamos pegado no sono.”

É o tipo de situação que pode ajudar o jovem a definir seu comportamento na web. Mais do que broncas ou castigos dos pais, a experiência pode moldar atitudes menos prejudiciais. “É importante que eles próprios aprendam a criar seus filtros e a lidar com essas situações de uma forma mais segura e responsável”, completa Bouer

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